É significativa a palavra sintonia! A mente, o coração e a vontade da pessoa necessitam cultivar esta necessária abertura no vasto mudo da comunicação. Aliás, a sintonia é um elemento básico não apenas para a boa comunicação, mas principalmente para a comunhão de vida. Porém, existem algumas perguntas que podem nos inquietar: O que sintonizamos? A quem sintonizamos? Desta sintonia, o que resulta para meu crescimento global: libertação e dignificação?  Em que contribui para uma sociedade justa, fraterna e solidária?

Lembro aqui o discurso de Paulo no Areópago de Atenas e a sua incrível sabedoria de não ficar combatendo as sintonias erradas dos que adoravam os muitos deuses pagãos. Elogia o povo por ser religioso e anuncia o Deus verdadeiro, cujo altar estava vazio e era dedicado ao Deus desconhecido. Aconselha aos cidadãos que se esforcem por encontrá-lo, mesmo que seja às apalpadelas... “Ele não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28).

Hoje vivemos uma verdadeira explosão no mundo das comunicações, seja em questão de meios sofisticados e mensagens que se atravessam de todos os jeitos e de todos os lados. Mas nesta explosão aumenta sempre mais a compulsão por sintonia. Mas qual sintonia? Com quem procuramos nos sintonizar? O que procuramos com esta busca insaciável de sintonia? O que temos a oferecer e o que esperamos receber?

Mal comparando Paulo, em sua estratégia de evangelização, poderíamos dizer: “Em tudo vemos as crianças, os jovens e adultos se comunicando e procurando sintonia! Mas há um altar ao comunicador desconhecido: O Deus da misericórdia”. Ele já está em nós e, ao sintonizá-lo nada temos a perder, mas tudo a ganhar, desde a melhor acolhida, a palavra mais verdadeira que revela nossa dignidade de Filhos e irmãos e a melhor oferta em favor do sentido e qualidade de vida.

Sintonizando com a misericórdia de Deus, logo percebemos que Ele é amor, paciência e perdão. Não atropela ninguém e nem se apresenta como implacável juiz, mas como o Pai do Filho pródigo. Seu amor misericordioso respeita a liberdade e não se atravessa para impedir nossas decisões. Mesmo sabendo que ninguém se dá bem nas escolhas erradas e no mal praticado, Deus aguarda de portas abertas, a volta de seus filhos, sem nada cobrar. Ele não manda recuperar a herança perdia, está sempre pronto a abraçar e comemorar o retorno de quem estava perdido e foi encontrado, de quem estava morto e reviveu.

A sintonia com a misericórdia nos educa para a sabia sensibilidade de não brincar com a vida, nem desgastar à toa os dons recebidos, mas tudo investir para sermos agentes construtores da alegria de viver e conviver. Esta sintonia com a misericórdia de Deus que é eterna e inesgotável, nos leva também a sermos misericordiosos como o Pai. Assim liberamos de nós o remédio para tantas feridas e tantos feridos de nosso tempo.