No diálogo da fé, o verdadeiro itinerário sempre começa por reconhecer e acolher o amor de Deus que se antecipa em tudo e para todos. Ele nos amou e nos ama primeiro! Mas, ao dar-nos conta deste movimento do coração de Deus para nós, cabe-nos corresponder, procurando amar o próximo como ele nos ama e como a nós mesmos. “O ensinamento de Jesus, que diz: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso’ (Lc 6,36),  é um programa de vida tão empenhativo como rico de alegria e paz” (Francisco, MV 13).

“Jesus Cristo ensinou que o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a ‘ter misericórdia’ para com os demais. ‘Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia’ (Mt 5,7). A Igreja vê nestas palavras um apelo à ação e esforça-se por praticar a misericórdia” (São João Paulo II – Dives in misericórdia, 14).

Jesus afirma decididamente o primado do amor e do perdão sobre todas as ofertas e sacrifícios prescritos pela lei. “Eu quero a Misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9, 13;12,17). Cristo propõe um ideal de santidade e de perfeição que pode ir se concretizando nas obras de misericórdia espirituais e corporais. Estas são a forma mais elevada de amor ao próximo, como nos mostra a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,30-37).

Jesus adverte que o juízo final passará pela prova das obras de misericórdia e bondade que tivermos praticado em favor do próximo mais necessitado.  Ele as atribuirá como feitas em seu favor (Mt 25, 31-46). Aqui vale lembrar também o que pedimos no Pai Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos! (Mt, 6,12). Na cruz provamos até onde chega o perdão de Cristo: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”(Lc 23,34).

Vivemos num momento da história, onde a capacidade humana se gloria de tantos avanços técnicos e científicos. Os meios para tudo facilitar são sempre mais sofisticados. Porém, como nunca, os fins são equivocados.

“O homem contemporâneo interroga-se com profunda ansiedade quanto à solução das terríveis tensões que se acumulam sobre o mundo e se entrecruzam nos caminhos da humanidade. Se algumas vezes o homem não tem a coagem de pronunciar a palavra “misericórdia” ou não lhe encontra equivalente na sua consciência despojada de todo sentido religioso, ainda se torna mais necessário que a Igreja pronuncie esta palavra, não só em nome próprio, mas também em nome de todos os homens contemporâneos” (São João Paulo II – Dives in misericórdia, 15). Conforme este mesmo Santo dizia, realmente, estamos hoje na hora da misericórdia!