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A segunda vinda de Francisco de Assis
A singularidade de um homem, chamado Francisco de Assis, há mais de oito séculos vem perpassando a história humana com sua marca única. Com sua experiência da vida, tornou possível um futuro novo em seu tempo e desde seu tempo pode falar à humanidade de nosso tempo. A partir de seu encontro com o Evangelho passa a conectar-se com os melhores valores naturais e humanos da humanidade.
Não só os literatos e os artistas encontraram nele uma fonte privilegiada de inspiração, mas também os filósofos, os historiadores e cientistas recorrem a ele como um fenômeno humano excepcional e modelo nas relações sociais e na vinculação com a natureza. Algo novo despontou no horizonte vislumbrado por Francisco. De sua visão, novas possibilidades de viver e conviver contagiavam as multidões.
Mais do que ninguém, Francisco de Assis comprovou que a utopia evangélica é possível. Sua singular experiência não deixa de tocar a sensibilidade de quem cultiva um inquieto pensamento, uma ânsia de cordialidade e o sonho de ações que humanizam. Se a experiência vivida por Francisco é digna de encantamento e saudade, também se torna argumento de crítica para quem o segue, hoje, e não consegue contagiar a atualidade.
A propósito disso lembramos aqui a obra inédita do escritor crítico José Saramago: “A segunda vindas de Francisco de Assis”. É um texto teatral em dois atos. Traz em ação os personagens do tempo de Francisco, com os nomes confirmados nos escritos tradicionais. O teatro inicia mostrando a originalidade do movimento franciscano de simplicidade e pobreza. Com o passar do tempo, tudo muda. Frei Elias aparece como um empreendedor inteligente. Como Ministro Geral, Elias quer adaptar a Ordem aos novos tempos.
Francisco aparece em cena. Fica sabendo da evolução da Ordem e se choca com o “antes” e o “agora”. As coisas não são como eram. Francisco pede para que Elias venha à sua presença. Elias diz a Francisco: “O que fundaste não tem qualquer semelhança com o que existe hoje. O mundo mudou enquanto tu estiveste ausente. E tu és ingênuo se esperavas encontrar aquele quase nada que fomos, aquela ínfima porção”.
Francisco responde a Frei Elias: “Sim, o mundo mudou assim, porque nós não soubemos mudar de outra maneira o mundo. Agora, teremos de mudar-nos a nós mesmos para que o mundo possa ser mudado... O homem será plenamente homem quando, tendo atingido a suprema pobreza, a suprema desnudez, ainda for capaz de sobreviver como homem”.
Na realidade, Francisco abraçou a altíssima pobreza vivida por Jesus Cristo e proposta pelo Evangelho, também para combater toda a forma de pobreza imposta aos humanos como um mecanismo de exclusão e morte. Cristo se fez pobre para nos enriquecer. Francisco viveu a pobreza proposta, para nos enriquecer com sua herança sempre atual, capaz de devolver à humanidade e à criação a sua justa e verdadeira dignidade.