A princípio, imaginei que fosse apenas uma formalidade devocional. Porém, na medida em que comecei a ler, despertou em mim um senso de reverência, atenção e respeito. Não há como ficar indiferente, diante de tantos clamores expressos em poucas ou muitas palavras.

Nos escritos a Santo Antônio estão os humanos carregados de angústias, desesperos e esperanças, doenças e ferimentos afetivos; ali estão registrados tantos pedidos de socorro em busca de trabalho e êxito amoroso; ali estão os desabafos de quem não consegue ser ouvido por ninguém; ali estão os agradecimentos de quem conseguiu ser atendido em seu pedido; ali estão confissões mais secretas de quem suplica o perdão ou até mesmo jura vingança e pede justiça a quem lhe faz o mal; ali se registram promessas até maiores do que as possibilidades; ali está um tesouro subterrâneo que mereceria mais atenção e um estudo aprofundado para entender o misterioso mundo da existência humana.

Santo Antônio, porque te procuram? E os que colocam aos teus pés alianças, chaves, fotografias, velas e orações, o que querem te dizer? Os que tocam os teus pés e amarram o teu cordão de frade, o que desejam? E quem coloca a tua imagem na geladeira, ou de cabeça para baixo num balde de água, o que esperam com tanta pressão?

Porque no imaginário popular foram se criando tantos jeitos de relacionamento e confiança com este Santo? Até nos terreiros é invocada sua proteção e venerada sua imagem, sem nenhuma restrição. O vasto e misterioso campo religioso que habita os seres humanos permite-se a tudo, até mesmo as mais contraditórias expressões.

Dentro deste mundo, Santo Antônio, como especialista na evangelização, poderá nos sugerir também estratégias evangelizadoras para o nosso tempo. Seu olhar atento ao Evangelho e à realidade humana nos convida a prestar atenção ao que o Papa Francisco nos pede em nossos dias: mais compreensão das situações humanas e menos julgamentos, mais simplicidade e empatia no modo de ser e no trato humano, mais saída do que fechamento; mais escuta do que conselhos; mais proximidade do que distanciamento; mais diálogo do que defesa da própria verdade; mais solidariedade do que indiferença...

Santo Antônio, porque te procuram? Certamente, porque és um bom companheiro de viagem na caminhada humana; porque consegues apontar para o Cristo de quem te tornaste tão próximo pelo alto nível de tua santidade; porque cultivaste tanta simplicidade e, ao mesmo tempo tanta sabedoria; porque confirmaste ao mundo o Deus mais acreditável de todos os tempos: o Deus de Jesus Cristo.