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A morte com rosto de festa
Este artigo, para mim, é especial porque brota de um acontecimento e uma experiência familiar muito querida. Jamais a esquecerei! À primeira vista parece mostrar o lado avesso da festa. Na verdade, porém, confirma até onde a fé pode dar rosto de festa aos fatos da vida. Depois de três anos de enfermidade, meu Pai foi acolhido pela Irmã morte, fazendo a sua Páscoa definitiva. Naquele dia a intensidade da fé, com a qual ele viveu, contagiou a todos os que lhe prestaram a última despedida.
A Missa celebrada no momento da despedida, foi concelebrada por um grande número de Freis, meus irmãos da família Capuchinha. Uma multidão de amigos e parentes veio confirmar a solidariedade. O Coral da Igreja Imaculada Conceição de Caxias do Sul RS se fez presente para cantar hinos de esperança e ressurreição. Por coincidência recém havíamos gravado o CD próprio para exéquias “Vida agora e sempre”, com as Edições Paulina. A Missa foi realmente um forte momento Pascal.
Após a Missa fomos ao cemitério para a despedida e a bênção do túmulo. Lá foi outro momento onde conseguimos entender a parábola do “grão de trigo lançado na terra” que não morreu. Nosso Pai foi acolhido pela vida eterna. Terminada toda a celebração, acompanhei minha Mãe no caminho de volta à casa. No trajeto ela me comentava: “ Que bonito o enterro de teu pai, foi uma festa! Quando eu morrer gostaria que acontecesse uma festa parecida”.
Um enterro com rosto de festa, parece ser um acontecimento raro. É mais fácil e comum que algumas festas terminem em enterro. Quando se preza pouco a vida, brinca-se com ela e, por não gostar de brincadeira e aventura, a vida termina se vingando e nos enterrando na tristeza e no desespero. Quando se preza a vida com o argumento da fé, consegue-se revesti-la de tanta dignidade que até a morte passa a se tornar festa.
Pensei e ainda penso no sentimento e nas palavras de minha Mãe, que também na sua partida recebeu uma festa. Só mesmo a fé pode dar rosto de festa, quando se consegue ver o lado certo da vida e da morte. E isto só é possível a partir de Jesus Cristo que veio para ser luz no percurso da vida e no abismo da morte. Nele até a morte trocou de nome e passou a ser vida ressuscitada.
A fé não esconde o lado trágico, nem traumático do sofrimento e da morte, mas lhe confere um atestado de garantia de que a última palavra é da vida. O próprio Jesus viveu a angústia do abandono e da agonia, mas, na entrega à vontade do Pai garantiu a maior festa de vitória, a festa de todas as festas. Aleluias festivos ressoam em todas as partes da terra. Cristo ressuscitou!
A fé faz ver e motiva a tecer o lado certo da vida e da morte. É o único argumento que pode conferir dignidade, festa e grandeza , superando a tendência natural da depreciação de nosso natural processo de desgaste. “Mesmo se o nosso homem exterior vai se arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando dia a dia” (2 Cor 4, 16).