Na seqüência de nossas reflexões sobre o tempo, uma das questões que mais se destaca é o tempo livre. Esta foi uma das grandes esperanças do século passado. A partir da revolução industrial e tecnológica, a eficiência dos meios despertou um sonho de se poder reduzir o tempo ocupado com as fadigas anteriores. Assim se abririam as portas mais amplas para o tempo livre e criativo. Não podemos negar alguns avanços acontecidos, porém, nem tudo respondeu às proporções do sonho. Desta luta surgiram mais decepções do que esperanças.

A decepção pela não redução das horas de trabalho trouxe uma crítica dura ao sistema econômico-social, mais preocupado pelo ter e o fazer, a produtividade e o consumo, do que com o ser humano e sua imaginação criativa.

Na verdade, "tempo livre" é também uma questão muito controvertida. Há quem briga por tempo livre e não sabe o que fazer com a liberdade no tempo. Há quem acolhe o tempo livre como o tempo da gratuidade solidária. Cresce o voluntariado de homens e mulheres que descobrem o benefício da terapia ocupacional e vão confirmando que o melhor da vida é partilhar o tempo para a gratuidade na promoção da vida.

Não parece inútil lembrar que os possuidores do tempo livre são os mais visados pela cultura consumista. Deste jogo de manipulações surgem fortes tensões no mundo dos jovens, tensões que se manifestam em cenários agressivos, tanto a nível individual, como coletivo, de recursos à droga, de refúgio em grupos autoritários com forte carga emotiva. Este cenário pode ser um terreno fértil para a trágica realidade do suicídio.

Quando uma pessoa assume a sua liberdade com responsabilidade e consegue determinar-se, no tempo livre, para cultivar valores, aprimorar habilidades e talentos, não tarda a consolidação de uma caminho de auto confiança e a conseqüente confiança social. O tempo livre, ocupado em sadio lazer, no cultivo da arte, na leitura e na convivência familiar e amiga, na oração e meditação, torna-se um verdadeiro caminho da promoção da vida e cultivo da humana dignidade.

O tempo livre tem a sua expressão mais ampla no fim de semana. Sábado e Domingo são dias esperados e uma conquista segura para o cristão. Mesmo que estes dias pareçam propriedade dos humanos para disporem a seu bel prazer, o Cristão jamais pode ignorar que o Domingo é o dia do Senhor. A celebração Dominical em comunidade não desvirtua os demais valores do tempo livre, ao contrário, os ilumina no todo da vida, ajudando a integrar fé e vida, vida e fé.

A graça e o desafio do tempo livre torna-se para as pessoas, as famílias e as comunidades, um chamado à vigilância, pois o tempo livre dos humanos não é tempo de ausência de Deus, mas é também tempo único que não volta.