A nossa comunicação humana consagra e cristaliza expressões que vão se tornando tão familiares, a ponto de não despertarem qualquer atenção. Há alguns dias comecei me intrigar com a expressão: “ O nascer do sol”. Existe até um belo refrão para saudar o novo dia, que assim canta: “O sol nasceu, é um novo dia, bendito seja Deus! Quanta alegria!”.

É normal para o agricultor acordar e se por a caminho da lavoura ao nascer do sol. O operário das cidades também começa movimentar-se para a luta do dia, ao nascer do sol. Nasce o sol e o mundo se põe de pé para um novo dia. Mas, como nasce o sol? Quando acontece o seu parto? Tem-se a impressão de que a noite é a grande mãe. Em poucas horas faz acontecer uma misteriosa gestação e um parto bem sucedido para a alegria do mundo.

Algumas vezes parece que o sol não nasce. Nuvens carregadas ocultam os seus raios, então nos vemos envolvidos por um dia cinzento. E daí? Nasceu ou não nasceu o sol? Essa pergunta parece infantil, mas não deixa de revelar o pensamento do cotidiano simples e familiar. Sempre nasce o sol e nasce para todos, mesmo que as nuvens tentem esconde-lo.

É tão normal a referência do nascer do sol como um novo começo, novo caminho, nova oportunidade e um novo horizonte. Esta notícia sempre nos deixa alegres e animados. Porém, nunca se ouviu falar que o sol tenha morrido.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

Quando chega a noite escura ninguém grita: “morreu o sol”. Falamos, elegantemente do “pôr do sol” . Diz o salmo que “o sol sabe a hora do seu ocaso” (Sl 104, 19). Na verdade, o sol sempre nasce e nunca morre.

A Bíblia, em sua linguagem simbólica evoca o nascimento do sol dando-lhe sempre um tom de boa nova, vida nova, ressurreição. O cântico profético de Zacarias, após o nascimento de João Batista, proclama: “... graças ao coração misericordioso de nosso Deus, que envia o sol nascente do alto para nos visitar, para iluminar os que estão nas trevas e na sombra da morte” Lc 1, 78-79). Com freqüência os anúncios proféticos no meio do sofrimento do povo comunicam o nascimento do sol da justiça.

Quando Jesus fala do amor misericordioso que devemos exercitar, até mesmo com os inimigos ele argumenta: “Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5, 45).

Lembro esta linguagem Bíblica e estas citações para confirmar como a expressão: “nascer do sol” é tão histórica e popular quanto simbólica e provocativa. Enfim: o sol nasce todos os dias. Com este jeito de falar logo entendemos que o Pai Criador “trabalha sempre” (Jo 5, 17). O sol que nasce, o dia que começa, a vida que acorda, tudo nos leva a contemplar o amor em ação constantemente. A criação que nos abraça não é uma montagem mecânica e nem automática. Neste nascer do sol, neste novo dia que vem, há sempre um mistério que nos coloca na dinâmica do novo nascimento. “O sol nasceu, é um novo dia! Bendito seja Deus! Quanta alegria”.