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Morte, necessidade e violência
Sempre lembro um fato acontecido no início do meu ministério sacerdotal. Fui chamado, com urgência, a visitar e ministrar a Unção dos enfermos ao pai de um confrade capuchinho. Em vida, sempre foi um homem correto, austero, batalhador e participante da comunidade. No dia da visita, encontrei-o debilitado, com muitas dores e incapaz de se erguer da cama.
Logo que entrei na casa deste enfermo, ao ver-me, nem esperou a saudação e disse-me por duas vezes em dialeto: “Padre, ho bisogno de morrir! Si! ho bisogno de morrir!” (Padre, tenho necessidade de morrer!) De imediato perguntei-lhe qual era o motivo desta afirmação. Ele respondeu-me: “Não vê como eu estou?” Nunca esqueci esta cena e esta profunda verdade da existência humana.
A morte é uma necessidade: “Eu preciso morrer!” Assim como o parto é uma necessidade para o primeiro nascimento, a morte é também um parto necessário para o nascimento definitivo. No fim de nove meses não há como querer ficar protelando. A pessoa necessita nascer imperiosamente.
Parto é partida para um horizonte novo e incomparavelmente maior e melhor do que a segurança do seio materno. Se uma criança pudesse se expressar e manifestar sua vontade, certamente, jamais desejaria passar por este momento traumático, enfrentando a passagem da segurança e proteção materna para uma aventura desconhecida. O parto é uma necessidade, mas também uma violência.
Santo Inácio de Antioquia, quando estava se aproximando do martírio, escrevia aos romanos: “Meu parto se aproxima”. Com razão Franklin dizia: “Morrendo, acabamos de nascer”. O desabrochar da plenitude para a vida é uma necessidade irrenunciável, mas também é uma violência.
É na morte que a pessoa acaba de se gerar e ser gerada. Não há como viver, sem caminhar para a morte. “Cada dia morremos um pouco” (1 Cor 15, 31) Nossa história confirma que, desde o dia que nascemos, vamos morrendo em prestações. A vida e a morte andam sempre de mãos dadas. Porém, “ainda que o nosso físico vai se desfazendo, o nosso ser interior vai se renovando cada dia” (2 Cor 4, 16).
A vida vira um desastre quando nos vemos apenas na dimensão biológica. Enquanto seres espirituais nos completamos na morte. “Há um tempo de dar à luz e um tempo de morrer. Oxalá que a mim também suceda nascer em tempo desejado e morrer em tempo oportuno... De certo modo, somos pais de nós mesmos, nos concebemos e nos damos à luz a nós mesmos” (São Gregório de Nisa. Século IV).
Como conclusão, penso ser importante treinar a integração da morte para não encará-la em seu rosto trágico. O que podemos fazer de melhor, na caminhada da vida, é investir no amor-caridade, pois é por ai que nos eternizamos, como o desabrochar normal para a plenitude. Num dos mais belos teatros sobre Francisco, no final de sua vida ele cantava: “Vienni dolce morte!” (Venha doce morte!). Para quem sempre a chamou de “Irmã”, só podia tratá-la assim no momento de sua chegada.
Morte, necessidade e violência
Sempre lembro um fato acontecido no início do meu ministério sacerdotal. Fui chamado, com urgência, a visitar e ministrar a Unção dos enfermos ao pai de um confrade capuchinho. Em vida, sempre foi um homem correto, austero, batalhador e participante da comunidade. No dia da visita, encontrei-o debilitado, com muitas dores e incapaz de se erguer da cama.
Logo que entrei na casa deste enfermo, ao ver-me, nem esperou a saudação e disse-me por duas vezes em dialeto: “Padre, ho bisogno de morrir! Si! ho bisogno de morrir!” (Padre, tenho necessidade de morrer!) De imediato perguntei-lhe qual era o motivo desta afirmação. Ele respondeu-me: “Não vê como eu estou?” Nunca esqueci esta cena e esta profunda verdade da existência humana.
A morte é uma necessidade: “Eu preciso morrer!” Assim como o parto é uma necessidade para o primeiro nascimento, a morte é também um parto necessário para o nascimento definitivo. No fim de nove meses não há como querer ficar protelando. A pessoa necessita nascer imperiosamente.
Parto é partida para um horizonte novo e incomparavelmente maior e melhor do que a segurança do seio materno. Se uma criança pudesse se expressar e manifestar sua vontade, certamente, jamais desejaria passar por este momento traumático, enfrentando a passagem da segurança e proteção materna para uma aventura desconhecida. O parto é uma necessidade, mas também uma violência.
Santo Inácio de Antioquia, quando estava se aproximando do martírio, escrevia aos romanos: “Meu parto se aproxima”. Com razão Franklin dizia: “Morrendo, acabamos de nascer”. O desabrochar da plenitude para a vida é uma necessidade irrenunciável, mas também é uma violência.
É na morte que a pessoa acaba de se gerar e ser gerada. Não há como viver, sem caminhar para a morte. “Cada dia morremos um pouco” (1 Cor 15, 31) Nossa história confirma que, desde o dia que nascemos, vamos morrendo em prestações. A vida e a morte andam sempre de mãos dadas. Porém, “ainda que o nosso físico vai se desfazendo, o nosso ser interior vai se renovando cada dia” (2 Cor 4, 16).
A vida vira um desastre quando nos vemos apenas na dimensão biológica. Enquanto seres espirituais nos completamos na morte. “Há um tempo de dar à luz e um tempo de morrer. Oxalá que a mim também suceda nascer em tempo desejado e morrer em tempo oportuno... De certo modo, somos pais de nós mesmos, nos concebemos e nos damos à luz a nós mesmos” (São Gregório de Nisa. Século IV).
Como conclusão, penso ser importante treinar a integração da morte para não encará-la em seu rosto trágico. O que podemos fazer de melhor, na caminhada da vida, é investir no amor-caridade, pois é por ai que nos eternizamos, como o desabrochar normal para a plenitude. Num dos mais belos teatros sobre Francisco, no final de sua vida ele cantava: “Vienni dolce morte!” (Venha doce morte!). Para quem sempre a chamou de “Irmã”, só podia tratá-la assim no momento de sua chegada.