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"Nenhuma Mudança Abala Minha Fé"
Há pessoas que falam pouco, mas são presença que vão comunicando mensagens no silêncio, na perseverança e na bondade. Há pessoas que não escrevem livros, mas que são livros escritos pela sabedoria da vida. Há pessoas que não dão entrevistas em rádio, nem jornais e não se pronunciam publicamente, mas que vão se tornando mensageiras do indizível, cultivado na experiência da fé.
Desde que assumi os cuidados da Igreja Santo Antônio do Partenon, em Porto Alegre, chamou-me atenção um personagem singular. Todos os Domingos, bem cedo da manhã, encontro-o por primeiro na frente da Igreja esperando entrar, quando se abrem as portas. Depois de quatro anos de conhecimento e amizade, pensei em dialogar com ele a respeito de sua experiência cristã.
Pedi licença para citar seu nome e disse que iria escrever algo de sua história no coração da vida. Com sua permissão o menciono. Trata-se do Senhor Tito Ribeiro. Hoje tem noventa e dois anos. Nasceu no Bairro Partenon, foi batizado, crismado, fez Primeira Eucaristia e celebrou seu casamento na Igreja Santo Antônio. Ele se diz descendente de escravos. Sua Mãe foi cozinheira da Princesa Izabel. Estudou no quase centenário Colégio Santo Antônio dos Irmãos Lassalistas, aqui no Bairro.
Tito Ribeiro tem uma lucidez e uma memória invejáveis. Fazem sessenta anos que ele se mudou para Viamão, cidade vizinha de Porto Alegre. O que chama a atenção é que ele não falta jamais à primeira Missa da manhã às 07h30min. Acorda às 04h30min toma o ônibus às 05h e chega pelas 06h alegre e disposto para participar da celebração.
No meio da conversa informal o amigo Tito ao ser perguntado sobre os nossos tempos atuais e suas transformações, disse-me com toda a simplicidade de um profeta: “Nenhuma mudança abala a minha fé”. Realmente seu testemunho é admirável e eloquente. Só pode ser assim mesmo!
Quando se cultiva a sabedoria da vida, sabe-se distinguir entre o circunstancial e o fundamental. O circunstancial muda. Passam as modas; rapidamente trocam-se instrumentos de trabalho; as ideologias erguem muros que depois caem ou são derrubados; os totalitarismos e ditaduras, com freqüência, terminam em tragédias; tantas ondas vão e vem. O circunstancial muda, mas o fundamental permanece.
“Nenhuma mudança abala minha fé”. Este depoimento do Tito nos interpela em nossa cultura atual. Uma frase do Filósofo Soren Kirkegaard descreve bem o nosso momento atual envolvido e atropelado no circunstancial: “ O navio está nas mãos de um cozinheiro, o que o microfone do comandante transmite não é mais a rota, mas o que vamos comer amanhã”.
Bom seria se, em nossa caminhada humana e cristã atual, conseguíssemos resgatar a tradição judaico-cristã, valorizando a memória, deixando que falem também os anciãos e as anciãs de sua sabedoria. Obrigado Tito por sua lição: “Nenhuma mudança abala a minha fé”.