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No Subterrâneo das Multidões
Um dia, um sábio amigo me dizia: “Em tua missão sacerdotal, quando vires as multidões se movimentando, certamente ficarás inseguro. Ao olhares uma cidade no seu todo, também não saberás bem o que dizer e nem o que pensar e, tão pouco como te organizar na ação. Uma certa angústia nasce no coração quando se olha, de cima para baixo, a agitação das multidões”.
Geralmente o que aparece aos nossos olhos não é tudo. Como numa grande e densa floresta, o que vemos é tão pouco diante da realidade que a constitui. Olhando de longe, ou de cima na floresta não vemos as raízes, nem os troncos, nem os galhos. No escondido da floresta está tudo o que a faz viver ou morrer.
No subterrâneo das multidões estão os mais diferentes espaços de decisão, estão as organizações que as movimentam e, decididamente está a pessoa com sua individualidade, com seu potencial, com suas angústias, dores e esperanças. No subterrâneo das multidões estão os sentimentos e intenções de cada pessoa, estão os homens e mulheres, jovens e crianças acolhidas ou rejeitadas, os que tem vez e os que não a tem, os que tem voz e os que foram emudecidos, estão os sujeitos da história e os que nada mais tem a fazer.
No subterrâneo das multidões são acalentados grandes ideais de vida e tramas sutis de desespero e de morte. Ali, nas raízes de uma aparente sociedade evoluída estão os que tem acesso aos meios mais sofisticados e a multidão dos que ainda não conseguem alcançar, senão o mínimo para sobrevier.
No subterrâneo das multidões estão os sábios que estudam e pensam, que analisam e contemplam, estão os santos que brilham como estrelas do céu na terra dos humanos e estão aqueles que inventam um novo tipo de vida e convivência, ao avesso daquela que deveria ser.
Como podemos nos relacionar com as multidões, sem nos aproximar da pessoa?
Como podemos superar o medo de viver numa grande cidade sem pensar no coração das pessoas? Creio que agora podemos imaginar um caminho possível de superação do medo, um jeito viável para confiar. Este caminho e este jeito passa pelo encontro com a pessoa.
Há em cada ser humano uma bondade inscrita no coração, um espaço de confiança onde a ternura pode operar milagres. Se diante das multidões nem sempre sabemos o que pensar, o que dizer e como agir, diante da pessoa nos convenceremos que não há lobo para quem ama.
Num tempo onde a globalização parece ser a marca do progresso, onde a pessoa se vê ameaçada a ampliar a multidão dos solitários, creio que se faz urgente a retomada do diálogo, do aconchego e da aproximação humana. Não se globaliza sentimentos, nem se pode anular as grandes e fundamentais aspirações do ser humano como: a felicidade, a paz,o amar e ser amado. Não há evolução que consiga anular o mistério da vida de cada ser humano. Não esqueçamos que no subterrâneo das multidões está o melhor da vida, onde cada pessoa é única, insubstituível e irrepetível.