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O Silêncio de Maria
De modo algum podemos imaginar Maria como a mulher omissa, submissa e reduzida ao silêncio. No coração da vida, a reconhecemos como a portadora e a serva da Palavra. “Do silêncio contemplativo de Maria nasce a capacidade de dizer “SIM” a Deus” (Carlo Maria Martini). É este seu “sim”, nascido no silêncio, que marca a plenitude dos tempos (Gl 4,4). Maria é a imagem e começo da nova criatura.
A grandeza de uma pessoa não se mede pelo esplendor de suas obras, nem pela quantidade de palavras, mas pela contínua, silenciosa e humilde fidelidade à sua missão, à comprometedora palavra recebida. Maria é mulher de poucas palavras. No Evangelho fala apenas quatro vezes: No anúncio do Anjo; quando entoa o magnificat; quando encontra Jesus no templo e em Cana da Galiléia.
Depois que recomendou aos servos para que fizessem o que Jesus lhes dizia, Maria se cala. Mas o seu silêncio não é ausência de voz, nem vazio de quem nada mais tinha a comunicar. Ela se torna o ventre que acolhe e cuida da Palavra. O silêncio de Maria a torna a serva da Palavra.
Um dos últimos versículos da carta de Paulo aos Romanos nos oferece uma chave de entendimento do silêncio de Maria. O texto fala de Jesus Cristo como “revelação do mistério mantido em silêncio desde sempre” (Rm 16, 25). A Palavra de Deus no seio da eternidade estava revestido de silêncio. Entrando no seio da história, é gerado no silêncio do ventre de Maria. Ela se tornou a mediadora do Verbo feito carne que veio habitar no meio de nós.
Uma das questões curiosas em relação a Maria é que nunca se ouviu falar que ela tenha saído às ruas para fazer propaganda de seu Filho, nem mesmo tenha se atrevido a dizer em público o que no aconchego de sua casa era falado ou acontecia. Um grande teólogo René Voillaume nos afirma: “A Santa Mãe não pregou publicamente. Deveis crer que ela tinha não menor desejo do que vós de tornar seu Filho conhecido. Porém escolheu o silêncio como sua maior pregação”
Hoje nos vemos como filhos da era da comunicação e nossa comunicação é tão pobre, porque desprovida da Palavra. De muitos modos nos sentimos assediados por palavras. Circulam em nossos ouvidos tantas palavras vazias, tantas mentiras embrulhadas em verdades e tantas verdades vendidas por mentiras.
O silêncio de Maria também foi acompanhado, como o de Cristo na cruz, pelo silêncio de Deus. Para nós, também não faltam os momentos em que entramos na dura prova do silêncio de Deus, quando chegam as crises, as doenças e até mesmo a proximidade da morte. Quando o céu não responde ao nosso grito e o medo nos coloca em situação de abandono, é nesta hora que se rompe o silêncio para nos dizer palavras de amor. É ali que o grão de trigo caído na terra germina para dar frutos e o hino de Páscoa vem ressoar como possibilidade segura de um final feliz.